Lula convida Camilo Santana para o MEC, mas ex-governador do Ceará defende Izolda

 


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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convidou o ex-governador do Ceará Camilo Santana (PT) para ser ministro da Educação. Segundo fontes, no entanto, ele teria recusado inicialmente porque defende o nome de Izolda Cela, sua vice no Estado e atual governadora, para a pasta. O interesse de Camilo seria outro ministério, como o de Desenvolvimento Regional. A escolha de Lula foi uma forma de acalmar os ânimos de alas do PT que resistem ao nome de Izolda por ela não ser filiada ao partido.

Izolda foi indicada a Lula por Camilo desde que ele se elegeu presidente. Seu nome havia sido amplamente aceito por setores da educação, até uma ala do PT começar movimentos contrários. Ela tem o apoio dos ex-ministros da Educação, Fernando Haddad (PT) e Aloízio Mercadante (PT), de alguns secretários de educação e de fundações empresariais ligadas à área.

Na segunda-feira, como mostrou o Estadão, ela chegou à diplomação de Lula acompanhada do presidente eleito. No mesmo dia, ele teria feito o convite a Camilo, que também estava no evento. Lula disse que quer o senador eleito no governo e sinalizou com o MEC.

Segundo interlocutores, ele ficou de conversar com as bases ainda sobre a proposta. O ex-govenador gostaria que o Ceará pudesse ter dois ministérios, Izolda no MEC e ele no Desenvolvimento Regional. Camilo também teme o desgaste de aceitar o cargo depois de Izolda ter sido apontada como favorita durante semanas. Passaria a impressão de que ele teria sido responsável por tirar a vaga de uma mulher e que estava praticamente certa para o ministério.

Mas se houver risco de o Estado ficar sem nenhum ministério, segundo interlocutores, ele pode aceitar o MEC e levar Izolda para ser secretária da Educação Básica, considerado o segundo cargo mais importante em um cenário de déficit de aprendizagem no País pós-pandemia.

Grupos ligados a sindicatos de trabalhadores da educação divulgaram carta defendendo o nome do deputado Reginaldo Lopes (PT) para o MEC e dizendo que o escolhido “não deve estar vinculado aos setores empresariais na educação” e “ter raiz na defesa da educação pública, habilidade nos diálogos com os amplos setores da sociedade, história de militância na educação e forte compromisso com o programa vitorioso do Presidente Lula”. Alguns deputados do PT também trabalham para que Reginaldo seja o escolhido.

Camilo se elegeu senador este ano pelo PT e foi por dois mandatos governador do Ceará, Estado referência em educação no País. Ele continuou a política iniciada pelo PDT cearense de incentivos fiscais aos municípios que mais avançam na aprendizagem dos alunos, com foco em alfabetização, formação de professores e avaliações. O Ceará aparece nas primeiras colocações de todos os rankings nacionais de avaliação há anos.

Izolda foi secretária de Educação em Sobral, primeira cidade a ter destaque na área e que se tornou referência internacional. Depois, como secretária estadual, ampliou a política para o Ceará todo. Psicóloga e mestre em gestão, está sem partido atualmente depois de deixar o PDT e é mulher do ex-prefeito de Sobral, o petista Veveu Arruda.

Ela sempre esteve ligada à educação pública, nunca trabalhou para fundações empresarias, mas tem o apoio desse grupo. Fundações como Lemann, Telefônica, Itaú Social, Instituto Natura e Unibanco financiam iniciativas como formação de professores, capacitação técnica, elaboração de materiais didáticos e currículos para redes de ensino do País, em parcerias com secretarias municipais e estaduais.

Durante a pandemia, com a ausência do MEC no governo Bolsonaro, esses apoios da sociedade civil foram intensificados e garantiram muitas vezes que as escolas pudessem continuar funcionando remotamente. Em recente evento da Fundação Lemann, Izolda foi ovacinada e chamada de “ministra” pela plateia. Grupos contrários, no entanto, acreditam que essas entidades seguem interesses do mercado e querem controlar a agenda educacional dos entes públicos.

Corre por fora ainda, o atual superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, que já trabalhou no MEC e no Ministério do Desenvolvimento Social em governos petistas e foi um dos responsáveis pelo desenho do Bolsa-Família. Mas atualmente trabalha para uma fundação empresarial, grupo que uma ala do PT defende que não faça parte do governo.

Estadão

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