Tão logo postou uma foto ao lado do
candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), a atriz Regina Duarte viu
sua página no Instagram ganhar 300 mil seguidores em apenas quatro dias.
Nas ruas, é festejada e cumprimentada, tornando-se um dos primeiros
nomes da classe artística a abraçar a candidatura bolsonarista. “Ele tem
uma alma democrática”, garante Regina, que interpreta as declarações
consideradas homofóbicas e racistas do candidato como frutos de um homem
com um “humor brincalhão típico dos anos 1950, que faz brincadeiras
homofóbicas, mas que são da boca pra fora, coisas de uma cultura
envelhecida, ultrapassada”.
A situação é diferente da vivida por ela
em 2002, quando foi muito criticada ao revelar seu temor pela primeira
eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. “Eu estava
completamente alienada, pois o Lula já havia ganhado”, afirma. “Não me
arrependo, mas, se pudesse voltar no tempo, teria me informado melhor
sobre o que estava acontecendo naquele momento. O País queria o Lula e
fui dar a cara a tapa à toa.”
Veja os principais trechos da entrevista, concedida no apartamento da atriz, na região dos Jardins, em São Paulo.
Quando você se sentiu à vontade para falar de Bolsonaro?
Foi há uns dois ou três meses. Eu
estava “no armário”, e meu filho mais novo começou a me contestar: já
que sempre fui uma pessoa democrática, aberta, justa, como eu podia me
fechar no conceito de que Bolsonaro é bruto, tosco, ignorante, violento.
“Você já chegou perto dele?” Respondi: “Não preciso me aproximar, sinto
que é o candidato da raiva, da impotência, do ódio, contra a corrupção e
não quero votar no emissário da raiva”. Mas, quando conheci o Bolsonaro
pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu
pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um
jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro
de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha. Eu tinha
algumas opções de voto, como o (Geraldo) Alckmin e o (João) Amoêdo, mas,
nesse momento, me caíram fichas inacreditáveis, como as omissões do
PSDB. Foi tudo ficando muito feio. Quantos equívocos, quantos enganos!
Foi quando notei o tamanho da adesão desse país ao Bolsonaro e pensei:
eu sou esse país, eu sou a namoradinha desse país.
Bolsonaro passa a imagem de ser
truculento quando o assunto é homossexualidade, feminismo, quando fala
sobre índios e nega efeitos negativos da ditadura.
São imagens montadas, pois mostram a
reação dele, mas não a de quem provocou a reação. É unilateral. Quando
souberam que ele ia se candidatar, começaram a editar todas as gravações
e também a provocá-lo para que reagisse a seu estilo, que é brincalhão,
machão. Daí fica a imagem de um homem tosco, bruto. Acredito que 80%
dessas reações eram brincadeiras dele: você manda uma porrada e ele
devolve outra. O homem com quem conversei durante 65 minutos quer chegar
lá democraticamente, seguindo todas as regras das nossas instituições.
Ele não estudou filosofia, mas o importante é seu preparo para nos
proteger da roubalheira descarada. Bolsonaro é fruto do País, é
resultado dos erros monstruosos do PT e da falta de mea-culpa.
Você abriu uma porta para outros artistas ao defender abertamente o Bolsonaro?
Alguém me falou que eu estou fazendo
muito artista sair do armário, o voto envergonhado. Hoje, se tivesse de
dizer alguma coisa para a juventude, usaria minha experiência do
depoimento de 2002, quando disse ter medo do Lula. Eu estava
completamente alienada, pois o Lula já havia ganhado a eleição. Aí fui
botar a cara na TV, feito uma tonta, para falar de um sentimento, de uma
intuição tão particular. Não me arrependo, mas, se pudesse voltar no
tempo, teria me informado melhor sobre o que estava acontecendo naquele
momento. O País queria o Lula e fui dar a cara a tapa à toa.
Qual deveria ser o primeiro passo do novo governante?
Resolver a impunidade, que é
inadmissível, pois não se acaba com a violência em um país de
impunidade. Meu filho perguntou por que eu estava novamente me
envolvendo com política. Respondi que era por ele, pelos filhos dele e
por todos nós. Não quero angariar votos para o Bolsonaro, até porque ele
não precisa. Mas porque quero ficar com a consciência em paz, ao gritar
em nome dos sem voz, dos milhões de brasileiros humilhados por não
poderem dar um berro de dor e indignação. É como assinar um cheque em
branco. Mas prefiro um cheque em branco da esperança. (Com informações Agência Estado).
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