Austrália volta à vida normal

 


Com o surto de covid-19 sob controle, a Austrália recebe neste mês de abril a tradicional etapa do Campeonato Mundial de Surfe e as atividades esportivas também já começam a reaquecer a economia do país. A vida nas maiores cidades da ilha tem tons de normalidade, com cidadãos nos restaurantes, trabalhando nos escritórios, indo a shows e eventos culturais e, inclusive, praticando turismo local. A conquista veio com uma receita conhecida: fortes medidas de lockdown, fronteiras fechadas, testagem em massa e rastreio de contágio.

A covid-19 fez com que a WSL, entidade que organiza as competições da elite do surfe mundial, alterasse locais do torneio, preferindo cidades mais seguras do ponto de vista do risco de contaminação. Além de levar em conta uma estratégia de reativação da economia. “Essa etapa do campeonato altamente cobiçado trará os dólares do turismo tão necessários para as lojas, restaurantes e acomodações locais aqui em Narrabeen e arredores, ajudando a reconstruir nossa economia após um ano muito difícil para muitas empresas locais”, disse o vice-primeiro-ministro do estado de New South Wales (Nova Gales do Sul), John Barilaro.

Indicadores invejáveis

Nova Gales do Sul possui indicadores invejáveis da covid-19. Desde o início da pandemia, em março de 2020, são 5.318 casos confirmados e 54 mortes. O estado inclui a maior cidade do país, Sydney, e conta com mais de 8 milhões de habitantes. Em toda a Austrália, são mais de 25 milhões de habitantes e os mesmos bons indicadores de combate à covid-19. O país tem ao todo 29.385 casos confirmados de infectados do vírus e menos de mil mortes (909). Em mais de um ano, morreram menos pessoas de covid-19 na Austrália do que em um dia, ontem (7), em São Paulo. Não morre ninguém no país pela infecção desde 10 de março, quando foram registradas três vítimas.

Comparar os números australianos com os brasileiros é tarefa ingrata. Ao contrário do Brasil, o governo australiano adotou uma postura de enfrentamento nacional à covid-19 com adoção de medidas intensas de isolamento de forma local. Aliado a um intenso rastreio de contágios, o resultado é positivo tanto para a vida dos cidadãos, como para a economia.

Rigidez

O esquema é rígido. Em 31 de janeiro, a cidade de Perth, capital do estado de Western Australia, adotou um lockdown total de cinco dias após o registro de um único caso na cidade. Foram mais de 10 meses sem nenhum registro de covid-19 em todo o estado. A cidade resolveu se fechar totalmente por uma semana após um policial local testar positivo. “Não podemos esquecer como esse vírus se espalha com rapidez. Também não podemos esquecer da devastação que ele provoca”, disse o primeiro-ministro do estado na assinatura do ato.

De volta a Nova Gales do Sul, para zerar o número de casos e reabrir a economia com, praticamente, força total, foram seis semanas de lockdown. Medidas de isolamento foram suspensas na segunda-feira (5), após grande sucesso. “Sem restrições em funerais ou casamentos; Sem restrições para eventos de canto ou dança; Reuniões em locais fechados, 100 pessoas; Externos, 200 pessoas; Cinemas e teatros a 100%. Qual foi o sacrifício? 6 semanas de lockdown e fronteiras fechadas. Vida normal”, aponta o epidemiologista Sandro Sperandei.

“Quer abrir? Então faz restrição bem feita por tempo suficiente. Austrália tem feito isso de maneira exemplar”, reconheceu o pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcelo Gomes.https://1520b26a7c7cac2f352bfd67f366f5a7.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Outro nome que exalta o sucesso do modelo de combate à covid-19 na Austrália é o epidemiologista Anthony Fauci, líder da força-tarefa norte-americana no combate ao vírus. Ele celebra o sucesso do que chamou de “lockdown de fato”, e criticou medidas frouxas e intermitentes, como as adotadas nos Estados Unidos e no Brasil, com menor intensidade e baixa eficácia. “Fizemos lockdown rotativo de pouco tempo alternado com relaxamento. Então reabríamos e os casos subiam. Isso é importante porque os vírus sofrem mutação ao se replicar: quanto mais infecções, mais mutações”, disse.

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