BOLSONARO APOSTA EM MAIOR ABSTENÇÃO; ESTUDO PREVÊ EFEITO EM VOTAÇÃO ACIRRADA

 

O governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), apoia Bolsonaro.  Foto: Adriano Machado/Reuters

Nas apostas da campanha de Jair Bolsonaro (PL) para uma vitória nas urnas no segundo turno da eleição presidencial tem destaque um possível aumento do índice de abstenção em Estados onde a eleição já foi decidida, principalmente no Nordeste – base eleitoral mais fiel do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Numa votação que se projeta acirrada, o número de eleitores que não comparecem às urnas se tornou preocupação latente da campanha petista.

Com a surpresa de ter de enfrentar um segundo turno mais renhido do que o esperado, o combate à abstenção esteve presente nas manifestações de quase todos os governadores presentes na quarta-feira na reunião em que declararam apoio a Lula, em São Paulo.

No caso de Bolsonaro, um dos principais esforços da campanha está concentrado em aumentar a presença de votantes nos 12 Estados em que o presidente venceu e, ao mesmo tempo, confiar na desmobilização da máquina de candidatos às Assembleias Legislativas, Congresso e governos estaduais nas “áreas vermelhas”, com eleitores mais pobres, o que ajudaria a desestimular o comparecimento.

Um estudo estatístico desenvolvido por Örjan Olsén, diretor da Analítica Consultoria, verificou qual seria o possível impacto da abstenção no total de votos dos dois candidatos no segundo turno.

No modelo mais favorável a Bolsonaro, o peso do não comparecimento, isoladamente, poderia significar uma diferença de 0,5% dos votos válidos em favor do presidente – o que só definiria uma eleição em um cenário de acirramento da disputa, com a vitória sendo definida por uma margem pequena de votos, menor ainda do que aquela registrada entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), em 2014. Naquele ano, a petista obteve 51,64% dos votos e o tucano, 48,36%. Em um caso assim, a abstenção pode ser decisiva.

EXPECTATIVA. Um dos coordenadores da campanha de reeleição de Bolsonaro, Fábio Faria, ministro das Comunicações, disse ao Estadão que a campanha tem a expectativa de uma abstenção maior no segundo turno justamente nos Estados do Nordeste. “O voto útil foi 100% para o Lula. Na nossa conta o Lula vai ter, só de abstenção, menos 3,6% – diferença da abstenção do Bolsonaro para Lula”, afirmou.
O não comparecimento dos eleitores nas unidades da Federação em que a disputa para governador já se definiu no primeiro turno impõe também um desafio aos bolsonaristas. O Rio, onde o governador Claudio Castro (PL) se elegeu no primeiro turno, por exemplo, deu a vitória a Bolsonaro.
O estudo feito por Olsén mostra que um crescimento hipotético de 5% na abstenção nos 14 Estados onde Lula venceu – ao mesmo tempo que houvesse uma redução na mesma proporção nas unidades onde Bolsonaro foi vitorioso – daria ao presidente 856 mil votos válidos a mais e retiraria 219 mil do petista.
“É que a queda da abstenção nos Estados onde Bolsonaro venceu também traria votos novos a Lula, pois em nenhuma das outras regiões a vantagem do presidente foi tão grande quanto a registrada em favor de Lula na Região Nordeste”, afirmou Olsén, que é doutor em Comunicação Pública pela Syracuse University, em Nova York.
Seu modelo estatístico mostra que se pode ganhar até 0,5% de votos válidos por meio da aposta no crescimento da abstenção. Esta dificilmente ultrapassa um aumento de 3% de um turno para outro. Ou seja, se Bolsonaro pretende vencer a eleição, terá de lutar pela virada de votos dos eleitores que pretendem votar em Lula.
Estadão Conteúdo

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