Marcus Aragão: O artigo que escreverei em 2027

 

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O tempo parece não passar no Rio Grande do Norte. Quem passa somos nós. Sim, a fila anda, as gerações vão se substituindo, e nossa cidade e nosso estado permanecem congelados no tempo. Os problemas de ontem são os problemas de hoje, e ninguém duvida que serão os de amanhã. De forma que este artigo é bem provável de poder ser lido em 2027, 2031… e ainda assim será atual. Afinal, o que mudou desde 2019? 2015? 2010? 2005? Continuamos na mesma ou não? Talvez pior, porque os problemas também procriam. Quer ver? Junte um governo que não investe o que deveria na atração de indústrias com uma disposição absurda para aumentar impostos, que teremos o desemprego nascendo cada vez mais.

Sabemos que, com o declínio da economia nacional, os governantes devem se sentir mais tentados do que nunca em aumentar o assistencialismo através de mais impostos — e dessa forma tentarem permanecer no poder através dos votos dos miseráveis. Esse pensamento pode ser ampliado para os estados alinhados com a política federal. Mas isso é apenas um cuidado paliativo, pois não há dúvidas de que qualquer governo morre junto com a economia. O complicado é que nem Natal nem o RN se beneficiam para se desenvolverem com essa aliança federal.

— Quem não conhece o passado está sujeito a repetir o futuro.

Agora a Nasa vem! Ora, todos os potiguares conhecem nosso passado muitíssimo bem, e mesmo assim repetimos o futuro. Estamos presos nesse comodismo que, quanto mais nos enfraquece, menos temos disposição para mudanças. De um lado, o povo sofrido luta para sobreviver entre um feriado e outro, aguardando esmolas públicas com o pires na mão.

Do outro lado, o empresariado sufocado com uma montanha de impostos e regulações não ousa tirar sua mordaça. Tem um medo atroz de reclamar e ser fiscalizado ou ainda, não receber uma licença ou sofrer qualquer outra punição. O empresário potiguar, mesmo sem perceber, parece lutar para, no máximo, ser uma espécie de prisioneiro do ano neste sistema que o acorrenta. Segue gerando emprego, renda e polindo as grades de sua prisão para ser bem visto pelos órgãos fiscalizadores.

Quando o famoso escritor russo Fiódor Dostoiévski era um prisioneiro na Sibéria — ele andou falando umas coisinhas que irritaram a classe dirigente — sofreu bastante com o frio e o isolamento. Longe do mundo, entre quatro paredes e rodeado de planícies desoladas de neve sem fim, ele escreveu uma carta à sua família pedindo ajuda. Ele apenas disse: “Me mandem livros, livros, muitos livros para que minha alma não morra!” Como bem lembra Garcia Lorca: — ele estava com frio e não pediu fogo, tinha muita sede e não pediu água: pediu livros, ou seja, horizontes.

É disso que precisamos. Precisamos de horizontes que não temos mais. Precisamos começar a serrar as grades de nossa cela e somente assim conquistar nosso lugar ao sol.

Não elejamos nem prisioneiros nem carcereiros.

Marcus Aragão.
Instagram: @aragao01


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