‘Minha família morreu porque a Justiça não o prendeu quando tinha que prender’, diz parente da mãe e filhas, vítimas de pedreiro procurado por outros crimes
Foto: Reprodução
Perdê-las foi e continuará sendo o pior momento de nossas vidas. Mas não daremos palco para aquele maldito que fez isso. Não nos lembrarmos delas com dor, mas sim com amor, porque é isso que elas eram nas nossas vidas.
Cerca de dez dias após o crime brutal contra mãe e três filhas que chocou o país, em Sorriso (MT), a família ainda busca forças para tentar seguir em frente.
Cleci Cardoso, de 46 anos, Miliane Calvi Cardoso, de 19 anos, e duas meninas de 10 e 12 anos, tiveram a casa invadida durante a madrugada do último dia 25 de novembro, no Bairro Florais da Mata, foram violentadas sexualmente e assassinadas pelo pedreiro de uma obra ao lado, que era foragido da polícia.
Ao canal do escritor e roteirista Beto Ribeiro, em episódio publicado no sábado (2), uma sobrinha de Cleci, Tauany Micheli Dill, de 22 anos, fez um desabafo e falou sobre as lembranças que leva da tia e das primas.
— Ela era uma mãe maravilhosa, inteligente, lutou a vida toda para dar tudo de melhor para as filhas. Elas eram lindas, inteligentes e amadas por todos nós. Por todos que a conheciam. Pois elas estavam sempre sorrindo, brincando, dançando, ajudando todos — disse. — Perdê-las foi e continuará sendo o pior momento de nossas vidas. Mas não daremos palco para aquele maldito que fez isso. Não nos lembrarmos delas com dor, mas sim com amor, porque é isso que elas eram nas nossas vidas.
O pedreiro Gilberto Rodrigues dos Anjos, de 32 anos, foi preso em flagrante pelo crime e já teve a prisão convertida em preventiva, o que significa que continuará atrás das grades até o julgamento. Nesta quarta-feira, o inquérito foi concluído pela Polícia Civil, que indiciou o suspeito quatros vezes por feminicídio e outras três vezes pelos estupros de duas adultas e uma menor de idade.
Gilberto foi preso após a polícia ter descoberto que ele era procurado por pelo menos outros dois crimes: o assassinato de um jornalista, em Goiás, e um episódio recente, muito parecido com o que ocorreu em Sorriso, quando invadiu uma casa, abusou sexualmente de uma mulher e tentou matá-la a facada, mas acabou impedido por ela. Tauany lamenta que ele não estivesse preso.
— A minha família morreu porque a Justiça não o prendeu quando tinha que prender — disse. — É importante que seja desenvolvido algum projeto de lei em que criminosos sexuais sejam colocados num banco de dados nacional e que todos possam ter acesso e se proteger. Se no primeiro crime cometido por ele, ele tivesse sido preso corretamente, ele não teria feito outra vítima na nossa cidade vizinha, Lucas do Rio Verde, nem essa crueldade com as nossas meninas. É sempre importante, também, que ao ouvir pedidos de socorro e barulhos estranhos na casa vizinha, as pessoas procurem sempre ligar para a polícia, informar o que estão ouvindo.
Questionada, a jovem também disse que o marido de Cleci e pai das crianças está muito triste e abalado, sendo amparado por todos da família. Eles fizeram um pacto de não voltar mais à casa onde tudo aconteceu.
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O caso
Gilberto confessou à polícia que atacou Cleci Calvi Cardoso, de 46 anos e as filhas Miliane Calvi Cardoso, de 19 anos, e duas meninas de 12 e 10 anos, no Bairro Florais da Mata, durante a madrugada de sexta para sábado. Ele esfaqueou a mãe e duas filhas e abusou sexualmente delas enquanto ainda estavam vivas. A menina de 10 anos foi morta asfixiada com o travesseiro.
Vizinhos das vítimas chamaram a polícia quando deram falta da família. Os agentes encontraram as quatro vítimas já mortas, três delas com marcas de “facadas profundas” no pescoço.
As investigações apontam que o criminoso entrou na casa das vítimas pela janela do banheiro. Os policiais chegaram a Gilberto depois que ouviram pedreiros que trabalhavam em duas obras vizinhas ao local onde o crime aconteceu. Descobriram que, naquela noite, um homem dormia numa das obras: Gilberto Rodrigues dos Anjos.
Ao ser ouvido pelos policiais, ele ficou nervoso e disse não ter ouvido qualquer barulho na casa das vítimas durante o fim de semana. Questionado sobre o local de seu descanso, ele mostrou onde dormia, no piso superior da obra, na parte da frente, e como documento apresentou apenas a cópia da identidade.
Durante checagem dos documentos, os policiais levantaram que contra ele havia dois mandados de prisão em aberto, um pela Comarca de Lucas do Rio Verde por crime sexual, e outro pela Comarca de Mineiros, em Goiás, pelo crime de latrocínio.
Pegada de chinelo, confissão e roupas em container
Em seguida, na casa onde mãe e filhas foram mortas, a perícia técnica encontrou marcas de chinelo no piso manchado com sangue e, ao vistoriar os pertences do suspeito, os policiais civis encontraram um calçado com as mesmas características, confirmando se tratar do mesmo marcado no piso.
Questionado novamente, o suspeito confessou ter sido autor dos quatro homicídios. Conduzido à delegacia e ouvido em interrogatório, ele admitiu a autoria do crime e disse que após usar drogas — afirmou ser viciado em crack — invadiu a casa pela janela do banheiro, com a intenção de roubar e, ao ser confrontado por Cleci Cardoso, entraram em confronto. Ele pegou uma faca e atacou a mãe. Neste momento, uma das filhas, Miliane, saiu do quarto para socorrer a mãe e também foi atacada. Na sequência, ele confessou que assassinou as outras duas vítimas, ambas menores de idade.
Depois de matar a família, ele narrou que saiu da casa pela mesma janela por onde entrou e voltou para a obra, onde retirou as roupas sujas de sangue e guardou em um contêiner. A Polícia Civil localizou as roupas e encaminhou para a perícia. Na sacola também havia uma peça de roupa íntima de uma das vítimas.
O Globo
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